quinta-feira, 30 de maio de 2013

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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Outros Planetas


Planeta dos Dragões
No livro é dito que o ar no Planeta dos dragões é mais denso, meio gelatinoso.

Mundo do Fogo
O Mundo do Fogo é um mundo habitado pelos Provadores de Fogo e pelas Flores Andantes.

Mundo das Aranhas
É citado no livro que o Mundo das Aranhas é frio e cinza.

Mundo dos Golfinhos
É um planeta aquático, como o Mundo das Algas Visionárias. A água lá é mais leve, menos densa do que na Terra.

Mundo das Algas Visionárias
É um planeta não muito distante da Terra, levando apenas uma década para ir e voltar.

Planeta das Brumas

Planeta das Brumas

O Planeta das Brumas é um dos planetas colonizados pelas almas. Ele também é conhecido como Planeta dos Ursos. O planeta não é muito escuro. As cidades de lá têm castelos de cristais que nunca derretem. Estes castelos são feitos de gelo e os Ursos pode esculpir ou construí-los da maneira que desejarem, o que pode ser bastante artístico.
Grande parte do planeta é coberta por neve e gelo.
Peg teve dois nomes neste planeta: "Vida nas Estrelas" e "Cavaleira da Besta".

"Eles são parecidos com os mamíferos. Pelos, sangue quente. De muitas maneiras o sangue deles não é exatamente como o seu, mas cumpre essencialmente a mesma função. Eles têm emoções semelhantes, a mesma necessidade de interação social e de expressão criativa."
Peg sobre os Ursos do Planeta das Brumas, Capítulo 25

Mundo Cantor

Mundo Cantor

O Mundo Cantor é um dos planetas colonizados pelas almas. Ele também é conhecido como Planeta dos Morcegos. As almas são uma espécie sensível que invadiram o planeta. Os Morcegos eram espécies que faziam mal ao planeta, assim como os humanos.

"Aí contei sobre os Morcegos no Mundo Cantor – como era viver numa cegueira musical, como era voar."
Peg, Capítulo 21

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Planeta Terra

Planeta Terra

A Terra é o planeta em que a maioria das almas sensíveis foram morar. Isso aconteceu porque os humanos estariam destruindo o planeta.
As almas são uma espécie sensível, pura e boa. Elas invadiram o planeta. Parte dos seres humanos eram ruins, cruéis e causavam mal ao planeta. Enviaram as almas puras para a Terra para elas a salvarem.
A Terra tem uma grande variedade de formas de vida: humanas, vegetais, animais, etc.
A Terra é o cenário principal de A Hospedeira.

"A Terra é... muito interessante. É mais difícil do que qualquer outro lugar onde eu tenha estado antes."
Peg sobre a Terra, Capítulo 22

Planeta das Flores

Planeta das Flores

O Planeta das Flores é um dos planetas mais distantes da Terra, leva-se mais de um século para chegar até ele. O planeta é muito adorável e a vida dos hospedeiros lá é extremamente longa.
Existem diversos tipos diferentes de Flores neste planeta, cada uma com cores, formas e tipos diferentes. Peg cita no livro que as Flores azuis são raras.
Peg envia sua Buscadora para o Planeta das Flores, para que ela possa desfrutar alegremente da luz do sol e se recuperar da personalidade irritante de sua antiga hospedeira, Lacey.
"Sol brilhante, dia longo" é a saudação e despedida comum do planeta.

"O Planeta das Flores era adorável. Mas as formas de vida baseadas na clorofila tinham um espectro tão pequeno de emoções... Parecia insuportavelmente lento depois do ritmo desse lugar humano."
Peg, Capítulo 8

Origem

Origem

Origem é o planeta de onde as almas vieram originalmente. É o único planeta onde elas podem viver fora de um hospedeiro por muito tempo. Não é muito quente nem muito frio lá, o que é importante para manter as almas vivas o maior tempo possível. No livro é dito que o planeta é cheio de nuvens, com várias camadas coloridas. Os hospedeiros de lá são bem bonitos, com asas e tentáculos e grandes olhos prateados.

É muito raro encontrar almas lá, porque a maioria nasce em planetas colonizados e as almas que vivem em Origem preferem ficar lá. Almas que nasceram em Origem são tratadas quase que como celebridades.


"Eu nunca tivera de prantear em Origem. Não sabia como isso era feito lá, o mais verdadeiro lar da minha espécie."
Peg, Capítulo 40

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Sozinha


Este é um capítulo que foi cortado do livro. Ele estaria entre os capítulos 58 e 59. O texto foi traduzido pelo site hospedeiros.com

Sozinha

Estou completamente sozinha.

Está escuro. Não consigo me lembrar onde eu estou… ou por que estou aqui. É errado eu estar sozinha. Onde está Peg? Não consigo enxergar para procurar por ela. Não consigo me lembrar como chamá-la. Está silêncio. Não posso senti-la. Não posso sentir nosso corpo.

Pânico começa a se estabelecer enquanto eu espero por sua voz. Para ela dizer meu nome. Me dizer onde nós estamos. Abrir meus olhos para que nós possamos enxergar. Eu preciso ouvir a sua voz – minha voz, em meu tom mais suave, minha inflexão mais gentil.
Eu espero, mas não há nada. Apenas eu e a escuridão.

O pânico fica pior à medida que eu tento me lembrar. Ela me bloqueou novamente? Isso aconteceu uma vez, eu sei, mas eu não me lembro. Acho que não foi assim, entrando em pânico no escuro. Não foi nada então.

E eu não acho que Peg faria isso. Porque nós nos amamos. Eu me lembro de dizermos isso. Bem antes de… alguma coisa. Eu tento escavar a memória.

Estávamos dizendo que nos amávamos… estávamos dizendo…

Adeus.

Minha memória voltou forte e clara e ao mesmo tempo o resto de mim também voltou. Eu consigo sentir a cama embaixo de mim, eu consigo sentir o suor na minha pele ficando arrepiada com o ar frio da noite. Eu consigo ver a luz avermelhada através das minhas pálpebras. Eu consigo me escutar respirando. Eu consigo escutar uma voz ficando mais alta, como se alguém estivesse apertando o botão de volume.

A memória é mais forte do que os meus sentidos. A memória é agonia.

Eu não pude pará-la. Ela morreu por mim e não teve nada que eu pudesse fazer. É tarde demais agora que eu posso mover os músculos dos meus dedos, que eu posso curvar minhas mãos em punhos. É tarde demais. Peg se foi. Ela me salvou e eu não a salvei.

Eu não escutei a voz próxima ficando mais alta. Eu não me importei, nesse segundo, sobre as mãos que estavam acalmando os meus punhos. Eu estava escutando a voz de Peg em minha memória, pensando seus últimos pensamentos. É só um eco em minha cabeça agora, do jeito que eu lembro a voz de qualquer um. Ela não está aqui.

“Eu estou com tanto medo”. Ela disse.

Eu sinto seu medo de novo, lembrando.

Eu a deixei se perder. Eu fiz isso.

Eu lembro dela raciocinando. Eu lembro de como ela tomou a decisão de morrer para me deixar viver: ela não poderia existir as custas de alguém que ela amava.

E agora eu devo fazer isso – viver as custas de sua vida? Como isso é o final feliz? Comigo o monstro que deixou minha amiga, minha melhor amiga, morrer por mim?

“Mel? Mel, eu te amo. Mel volta. Mel, Mel, Mel”.

É a voz de Jared, tentando me chamar do jeito que Peg chamou de volta a hospedeira da curandeira, do jeito que ela disse para Kyle chamar a Jodi.

Eu posso responder ele. Eu posso falar agora. Eu posso sentir minha língua em minha boca, pronta para se mover em qualquer forma que eu pedir para fazer. Eu posso sentir o ar em meus pulmões pronto para puxar as palavras para fora. Se quiser isso.

“Mel, eu te amo, eu te amo”.

Este é o presente de Peg pra mim, que foi pago com o seu sangue prateado. Eu e Jared, juntos novamente como se ela nunca tivesse existido. Como se ela nunca tivesse salvo nós dois.

Se eu aceitar esse presente, estou me beneficiando com sua morte. Eu a matei. Eu peguei seu sacrifício e tornei em um assassinato.

“Mel, por favor? Abra os seus olhos.”

Eu sinto a mão dele acariciando a minha bochecha. Eu sinto seus lábios queimando contra a minha testa, mas eu não os quero. Não a esse preço.
Ou eu quero?

Se eu quisesse ter salvado Peg o bastante, eu teria pensado em um jeito? Assim como ela pensou em um jeito de salvar a perversa buscadora. Porque ela queria o bastante. Talvez eu não quisesse – não quisesse realmente salvar a mais verdadeira amiga que eu já tive – e foi por isso que eu não encontrei um jeito.

Talvez assassina seja exatamente a palavra certa.

Peg chorou quando ela disse adeus. Meus olhos ainda estão feridos e inchados. Novas lágrimas seguem os caminhos das antigas. E deslizam para minhas têmporas.

“Mel? Doc, vem aqui! Eu acho que ela está com dor.”

Doc ainda está no hospital. Eu escutei ele caminhando rapidamente em direção a mim.

E meus olhos ainda estão machucados. Espera. Quanto tempo se passou? Algumas horas ou alguns minutos? Eu não estou muito atrasada?

Meus olhos tremem ao abrir e o rosto de Jared está perto, seus olhos estão tensos de preocupação, seus lábios se abrindo para falar de novo. Ele vê que estou consciente dele e qualquer coisa que ele disser está perdido.

Eu me empurro forte contra o seu peito e ele vai pra trás, desprevenido pra isso. Eu sento no espaço onde ele estava, olhando fixamente a sala, procurando algum sinal dela – um reluzente prateado, um brilho do movimento. Ela está morrendo em algum lugar aqui perto de mim agora? Existe alguma chance, eu estou em tempo?

“Mel?” Jared perguntou de novo, agarrando meu pulso direito e alcançando meu esquerdo.

“Onde ela está?” Eu chiei tentando me libertar enquanto eu deslizei para o outro lado da cama. Eu não me senti tonta ou desequilibrada em meus pés. Talvez eu não estivesse estado fora muito tempo realmente.

Ele olhou pra mim, chocado, ainda segurando meu pulso com seu braço esticado através da cama. Eu só reconheci seus olhos por meio segundo e então eu estava procurando freneticamente em volta da caverna do Doc de novo, grata pela luz brilhante do lampião ainda estar queimando.

Eu não vi o prateado brilhante que eu desejava. Mas então meus olhos encontraram algo metálico. Uma coisa prateada que eu quero. Uma dura, lisa e afiada lâmina de metal.

Eu reconheci a grande faca de caça de Jared na cabeceira da cama a meu lado, em uma fácil distância. Essa é a faca que Peg cortou nosso braço para salvar Jamie. Essa é a faca que Jared carregava com ele só quando deixava as cavernas. Essa é a faca que não tem nenhum uso aqui no hospital do Doc.

As almas mutiladas em minha memória, na memória de Peg, encheu minha cabeça, e eu respirei com dificuldade em choque tão intenso quanto ela, talvez até mais intenso.

O que aconteceu com aquelas almas não foi inteiramente surpreendente. Ao menos que você fosse tão inocente quanto Peg era. Isso não é desculpa. Isso é sem sentido e cruel mais do que qualquer coisa que já imaginei.

Jared é louco? Ele nunca acreditou em nós? Ele ainda pensava que Peg era um espião, mesmo agora que ela está morta por nós? Por ele? Ele estava brincando com ela até o fim?

Ou ele pensava que estava tirando ela do seu sofrimento? Ela estava torcendo com isso? Ela estava em agonia enquanto eu dormia? Um grito sufocado passou pela minha garganta e através de meus lábios.

Jared deu a volta na cabeceira da cama nunca soltando meus pulsos, e tentou me puxar para o círculo de seus braços.

“Mel, querida, está tudo bem. Você está de volta”.

Ele tem minha mão direita então ao invés de socá-lo, eu joguei as costas da minha mão com minha esquerda, pegando em seu rosto através do osso da bochecha. A força do golpe faz doer os ossos da minha mão.

Ele suga a respiração chocado e pula pra trás, soltando meu pulso. Livre agora, eu segui o primeiro golpe com um bom e forte soco que ricocheteia ao lado de sua mandíbula e ele cambaleia para trás.

Há um tempo atrás eu disse a Peg que pensava que eu não seria capaz de bater em Jared. Agora tudo o que eu quero é bater nele com força.

Não tem nenhum protesto interno para minha fúria do jeito que eu quase esperava, nenhum inato senso de errado e isso só me fez ficar mais furiosa.

“Como você pôde?” Eu berro com ele enquanto eu giro novamente, errando dessa vez porque ele está alerta. “O que há de errado com você? Como pôde matá-la?”

Eu lembro das almas que vi, a Buscadora e a Curandeira, e eu só consigo ver elas através da perspectiva de Peg. Bonita, frágil, suaves fitas prateadas. Peg deve ter sido bonita assim. Então eu pensei nos corpos prateados mutilados…

Alguém – Doc – tenta segurar meus braços quando vou pra cima de Jared com os punhos preparados. Eu jogo pra trás o cotovelo. Eu sinto o impacto e escuto ele respirar com dificuldade quando associei e as suas mãos me largaram.

“Vocês a mataram!” Eu gritei para os dois. Eu estava ecoando ela. “Vocês são monstros! Monstros!”.

“Mel!” Jared gritou de volta. “Escuta!”

Eu o ataquei e ele se moveu rapidamente fora do meu caminho, com as mãos, como pensava, ele estava tentando me conter. Eu considerei por apenas um segundo atacá-lo com a faca, e alguma parte de mim percebeu que eu estava fora de controle, mas eu não queria ser racional. Não com Peg morta – morta por minha causa – e eu ainda respirando.

“Mel, por favor, só...”

“Como você pôde fazer isso? Como?”

Outro ataque e um erro. Jared é rápido.

Uma grande forma abruptamente surge ao meu lado. Pelo canto do olho eu vi que a cama que estava na sombra estava ocupada. O rosto vago de Jodi, olhos fechados, cercado por cachos escuros, chegou ao alcance do meu ataque. E Kyle, um braço ainda segurando o tanque de Sunny, passos entre Jodi e eu. Protegendo o corpo da garota que ele ama e a alma hibernada que ele inesperadamente se simpatizou. Ele não fez nenhum movimento em direção a mim como eu esperei.

Eu ainda lembro de suas grandes mãos empurrando meu rosto debaixo da água.

Se até mesmo Kyle foi capaz de aprender. Como Jared pôde ser mais estúpido, teimoso e cruel do que Kyle?

Eu automaticamente dei passo pra trás de Kyle e Jared tirou vantagem da minha distração. Ele pegou meu pulso de novo e puxou meu braço pra trás. Eu posso dizer que ele está sendo cuidadoso, que ele não quer me machucar. Não é igual aquela primeira noite em que nos conhecemos, quando um pensava que o outro era um alien. Mas seu abraço trouxe de volta aquela primeira noite. E eu realmente não quero machucar ele mais, mas eu estou com tanta raiva, eu não sei se posso evitar isso.

Eu não posso ser a pessoa que vai aceitar a morte de Peg ao preço do que eu quero. Eu não quero ser.

“Melanie”, Kyle diz com sua voz intensa. Ele soa aborrecido. Eu estou tão chocada de ouvi-lo dizer meu nome que não interrompo.

“Calma!” Ele ordena. “Peg está bem. Ela está ali.”

Eu olhei pra ele. Eu sinto minha boca abrir.

Ele aponta para a mesa de Doc, onde tem três criotanques, todos eles com a luz vermelha parada no topo. Dois estavam no meio do jeito que eu lembro, e tem mais um separado no canto esquerdo. Eu olho os três tanques e olho o que está no braço de Kyle. Quatro. Dois curandeiros, Sunny e mais um.

Peg.

Eu comecei a chorar.

O alien que tinha se tornado minha irmã está viva. Ela está bem ali, e agora que eu tenho o controle em minhas mãos, eu posso ter certeza que ela nunca vai desaparecer. Ter certeza de que ela irá viver com todos nós.

Jared solta meu pulso e se move para me abraçar, mas eu o empurro e vou pra longe dele, passo por Doc, pronta pra Peg. Eu puxo o tanque dela com cuidado para os meus braços e seguro ela forte. Ela não sabe que eu estou aqui, mas algum dia – algum dia em breve – eu vou contar pra ela sobre esse momento. Eu vou contar pra ela que eu não quis meu corpo de volta até saber que eu poderia usá-lo para protegê-la.

“Mel,” Jared disse atrás de mim. Ele está mais hesitante; seus dedos pressionaram levemente contra o meu braço.

Eu não me virei.

“Me dá um minuto.” Eu disse densamente.

Ele espera em silêncio. Seus dedos continuam macios contra a minha pele.

Eu respiro fundo e tento lidar com essa nova situação. Peg está segura e eu vou trazer ela de volta. Eu sou eu de novo, o que eu sempre quis. Jared está aqui comigo. Nossa família está, graças a Peg, intacta. Eu tenho tudo. Não tem ninguém em minha cabeça além de mim.

Então é claro eu me sinto horrivelmente sozinha. Eu não sei se vou ser capaz de parar de chorar. Eu gostaria de poder ouvir Peg dizendo pra mim que está tudo bem. Eu prometi pra ela que seria feliz, mas eu não me sinto feliz. Apenas sozinha.

“Eu sinto sua falta,” eu sussurrei para o metal morno em meus braços.

Está quieto por um minuto na caverna do Doc. Eu posso sentir eles pairando atrás de mim, incertos.

“O que aconteceu?” Eu pergunto, ainda sem me virar.

“Eu cheguei aqui a tempo.” Jared responde.

Eu não entendo isso inteiramente.

“Doc?” Eu digo, e minha voz soa cansada.

“Eu dei minha palavra… hum, Melanie. Me desculpe. Eu não… a conheço realmente.”

Eu me viro para encará-lo enquanto ele está falando. Ele está corando um pouco, e ele não pode encontrar meus olhos totalmente.

“Eu não sei o quanto você me conhece,” Ele continua. “o quanto inteirada você estava do relacionamento que eu tinha com Peg.” Ele limpa a garganta. “Mas ela sabia o quanto minha palavra significava para mim. E eu acredito que sei o quanto significava para ela que eu mantivesse minha promessa. Ela queria morrer aqui.”

Agora ele me olha diretamente no olho.

“Ela estava errada.” Eu digo através de meus dentes.

Doc corresponde a meu olhar por um momento, depois suspira e encolhe os ombros.

“Acho que estou aliviado por Jared ter me parado. Espero que ela me perdoe.”

Minha risada é um pouco rouca.

“Ela é boa em perdoar pessoas.” Eu olho para Jared. “Você a seguiu?”

Ele assente.

“Eu podia dizer que algo estava acontecendo.”

Ele me olha, hesitante, e eu posso dizer que ele está tentando decidir se já está liberado para me abraçar.

Eu não estou totalmente pronta para isso. Eu olho para a faca e de volta para ele.

“Doc não queria fazer as coisas do meu jeito.” Jared explica, e Doc esfrega uma das mãos nervosamente por sua garganta.

Eu levanto uma sobrancelha, impressionada.

Jared parece impressionado por eu estar impressionada.
“Eu a amo também.” Ele diz. “Eu não deixaria nada acontecer a ela enquanto você estivesse fora. Não importa que plano maluco ela tenha posto em ação.”

E é como o momento em que Jared se esgueirou pelo quarto preto de Jamie e atacou Doc com clorofórmio, e Peg e eu sabíamos que ele entendia, que ele acreditava, que ele era quem nós precisávamos que ele fosse. Ele é o meu Jared, e é claro que ele salvou Peg do mesmo jeito que eu faria em seu lugar. Eu sei o que Peg diria sobre isso – sobre eu encontrar conforto na violência – e isso quase me fez sorrir.
Jared vê que essa emoção enche meus olhos, suaviza meu rosto, e ele dá aquele pequeno passo para frente para pôr seus braços em minha volta – em volta de nós duas, já que ainda estou segurando Peg. Dessa vez, eu deixo. Eu faço mais do que deixar – eu me encosto nele, secando meu rosto lacrimoso contra seu ombro.

“Obrigada.” Eu sussurro.

Jared beija o topo da minha cabeça.

Está quieto. Eu ouço o rangido de um catre, e eu imagino que Kyle esteja deitando, voltando a dormir. Deve ser por isso que ele soou tão irritado anteriormente. Eu o acordei. Quem se importa com todo esse drama com Doc e Jared e uma nova pessoa que ele nunca conheceu, quando ele está perdendo sono? Eu quero rir de seu egocentrismo. Não acho que eu vá me dar bem com Kyle como Peg fazia. Não sou de perdoar tanto.

Com meu rosto ainda pressionado ao ombro de Jared, eu de repente me pergunto o que Doc pensa dessa reunião. Eu o imagino parado embaraçosamente, olhando para outro lado. Ou talvez eu estou errada e ele esteja encarando, tentando encher sua mente com quem eu sou agora. Peg imaginou o modo com qual os humanos reagiriam a mim. Ela esperava que eu fosse abraçada por eles, cercada por eles, confiada e celebrada. Eu me pergunto se ela acertou. Eu posso definitivamente sentir um pequeno desgosto do Doc agora, mas talvez isso seja por Jared e a faca, e não eu. Ou talvez tenha tudo a ver comigo. Talvez os amigos da Peg não vão gostar muito de mim. Todas as melhores pessoas daqui, eu as rotulei. Alguma delas vai me perdoar por tomar o lugar da Peg? Roubando o corpo que eles vêem como dela?

Jamie vai? Eu acho que sim. Ele me ama. Eu sei disso. Mas como ele irá se sentir quando vir a Peg em um pequeno tanque de metal? Ele ficará feliz em me ter de volta quando – para ele – eu nunca tinha realmente partido?
Nós precisamos de um corpo. Jamie vai ficar bem quando a própria Peg dizer a ele que tudo está bem.

Mas Ian.

Eu nem quero pensar em Ian. Ele não me ama como Jamie. Eu não acho nem que Ian goste de mim. Ele deve me odiar. Ou ele vai, quando acordar e ela tiver ido.
Eu prometi a Peg que tentaria tomar conta de Ian, mas sinto em meus ossos que ele não vai permitir isso. Como posso me desculpar de qualquer maneira significante enquanto estou nesse corpo e Peg em uma lata?

Nós precisamos de um corpo rápido.

Há outra razão pela qual eu não quero pensar sobre Ian. Eu me lembro de tê-lo beijado, apenas alguns minutos atrás, provavelmente, e eu lembro disso parecer certo. Parte de mim já sente falta dele. Parte de mim o quer aqui.
Eu tremo nos braços de Jared, e ele me segura mais apertado.

“Tudo vai ficar bem.” Ele promete.

Eu acredito nele. Eu inalo o cheiro de sua pele e sei que aqui é onde quero estar.

Estou muito exausta agora para pensar em Ian. Estou cansada demais para fazer qualquer coisa além de descansar minha cabeça no braço de Jared e deixar que ele me abrace.

Isso vai ser confuso.

A grande voz de Kyle tão alta até quando ele tentava sussurrar, está puxando minha consciência. Eu estou deitada. Eu me sinto desorientada, como a primeira vez que eu acordei. Quanto tempo eu estive dormindo agora?

“Olha pra mim, Jodi, por favor, querida? Eu preciso que você abra os seus olhos. Eu preciso que você faça isso por mim, Jodi. Por favor. Por favor. Aperta minha mão. Alguma coisa.”

A voz de Kyle parou enquanto eu abria meus olhos. As lonas ainda estão ao longo das aberturas de ventilação. Eles não deixam o sol ser tão ofuscante. È manhã mas a luz é amarela e não laranja. Já passou o amanhecer.

Eu acho que não é tão surpreendente eu ter dormido tanto; Peg estava acordada a dias neste corpo. Ele está desgastado. Mas é uma hora terrível para colocar o sono em dia.

O Ian vai estar acordado? Ele está olhando pra mim?

Não pra mim. Pra Peg.

Eu sentei tão rápido e minha cabeça girou um pouco enquanto eu procurava Peg pela caverna. Eu olhei o tanque na cama perto de mim.

“Está tudo bem,” Jared murmurou em uma voz calma – o tipo de voz que você usa com gente doente e criança assustada. “Ela está aqui. Ela não vai a lugar nenhum.”

Jared está inclinado contra a cama do meu outro lado. Ele está sorrindo, o canto dos seu olhos enrrugando. Ainda tem um resíduo de cautela naqueles olhos. Ele não certo de que me conhece tão bem quanto ele conhecia antes.

Tem um machucado roxo se formando de lado a lado do osso de sua bochecha direita.

O sono claro em minha garganta e voz rouca, “Desculpa. E obrigada. De novo.”

“Eu amo você,” ele respondeu. Do jeito que ele disse as palavras faziam elas serem algo mais do que reafirmação. Era quase uma intimação.

“Eu também te amo,” eu disse pra ele. Eu virei meus olhos. “Obviamente.”

Ele sorriu, isso era tudo o que ele precisava. Ele me puxou da cama para seu peito.
Eu o abracei de volta, mas senti como se estivesse traindo. Eu não queria aproveitar nada ainda. Teve muita coisa que eu coloquei de lado enquanto estava dormindo. Isso pairou sobre mim como uma sentença de prisão. Algo que deve ser feito antes de qualquer coisa continuar.

“O que?” Jared perguntou, me sentindo enrijecer enquanto pensava no que teria que fazer. “Eu quero entender o que você está passando agora. Fala comigo.”

Ele soou tão sério e determinado – determinado para um terapeuta, se fosse isso o que eu precisava.

“Não é nada muito complicado,” eu disse, e suspirei. “Ian”

Seus braços ficaram rígidos por um segundo e ele se forçou a relaxar. Eu vi a dúvida nos seus olhos que nunca estiveram lá antes.

“Ele precisa saber”.

“Ainda é cedo. Ele ainda pode não estar acordado. Vamos procurar por ele.” Ação imediata. Especialidade de Jared.

“Eu preciso falar com ele sozinha primeiro. Eu tenho que explicar.”

Jared ponderou por um momento.

“Eu não gosto disso,” ele finalmente disse. Suas palavras mais lentas e deliberadas que o normal. “Ele vai ficar com raiva. Realmente com raiva.”

“Eu sei.”

“Eu vou com você.”

“Não. Isso pode machucar ele mais.” Eu tenho certeza disso. E eu também tenho certeza que eu não tenho nada físico a temer de Ian. Eu conheço ele melhor do que isso. “E não me segue como você seguiu Peg. Isso é o certo. Ele só precisa escutar isso de mim primeiro.”

Ele assentiu primeiro, cauteloso. A dúvida estava ali de novo. Eu não acho que tenha alguma coisa que eu possa dizer, para tirá-la. Palavras não são o bastante, especialmente depois de um longo ano onde as palavras de outra pessoa saíam da minha boca.

Eventualmente, Jared vai se certificar de que nada mudou entre nós apenas porque Peg estava em meu corpo quando se apaixonou por Ian. Tempo e ação – essas são coisas que irão convencer a ele. E a mim.

Eu pego seu rosto entre minhas mãos e o beijo uma vez forte na boca, e então uma segunda vez levemente – só tocando meus lábios em sua ferida.
Contudo, a sensação da sentença de prisão é muito forte para que eu demore. Eu tenho que acabar com isso antes que eu possa realmente deixar que eu sinta ele aqui comigo. Não posso ser feliz com essa iminência sobre mim. O prazer é corrompido para o ponto onde é dor.

Jared aperta meu braço assim que me viro para longe dele. Eu passo pelo Doc, que está roncando quietamente no último catre. Eu saio no longo túnel sul e sou imediatamente atingida com um forte senso surreal.

Eu nunca esperei fazer isso de novo – caminhar por essa escuridão. A última vez pareceu tão definitiva. Racionalmente, eu devia ter estado ciente de que o ponto da coisa toda era eu acordar, deixar o catre, e caminhar de volta pelas cavernas. Mas isso parece impossível e estranho e errado agora.

O túnel é longo de novo e um pouco assustador, do jeito que não havia sido para Peg por um longo tempo.

Assim que caminho rapidamente, minha mente se apressa para o que vou dizer à Ian. Ele ainda estará dormindo? Eu deveria bater na porta? Não consigo me lembrar se Peg pôs a porta de volta no lugar quando foi embora.

Eu o imagino, seus membros jogados para fora do colchão do jeito que ele sempre dorme, seu cabelo preto revirado em mechas rebeldes, suas pálpebras pálidas fechadas. É mais fácil imaginá-lo com seus olhos fechados. Estou com medo de ver seus olhos azuis brilhantes, porque sei como a dor vai parecer naqueles olhos. A dor e a raiva e todas as acusações que eu absolutamente mereço.

Eu começo a andar mais rápido, quase correndo. Quero chegar até ele antes que ele acorde. Quero ter alguns segundos para ver seu rosto antes que ele abra os olhos e comece a me odiar. Estou correndo completamente quando viro uma esquina dentro da praça brilhante. Essa será minha primeira vez nessa sala e também minha milésima. Estou ponderando isso enquanto corro para Ian.

Ele pega meus braços automaticamente, para evitar que eu caia para trás. Ele olha pra baixo e começa um sorriso.

A expressão congela em seu rosto. Suas mãos largam meus braços como se ele tivesse acabado de levar um choque elétrico.

Apesar de eu saber que me pareço exatamente a mesma que Peg – sem luz direta, meus olhos não me delatavam – é claro que ele sabe. Ele soube no segundo em que me tocou, e a informação só chegou a seu cérebro depois que ele começou aquele sorriso.
Ele dá um passo para longe de mim, ainda meio sorrindo, apesar de não haver nenhum humor em sua expressão no todo. É como o sorriso de um cadáver deixado sem terminar por um agente funerário indiferente.

Nós olhamos um para o outro.

Não posso dizer quanto tempo ficamos assim. O sorriso dele fica mais e mais doloroso por segundo, até que eu não posso agüentar isso. Finalmente eu falo, balbuciando as primeiras palavras em que posso pensar.

“Ela está bem. Ela está em um tanque. Nós vamos conseguir um corpo para ela. Ela ficará bem. Bem. Ela está bem”.

No fim, minha voz é muito baixa. Pouco mais que um sussurro.

Assim que eu falo, o rosto dele relaxa. Mais ou menos. O sorriso forçado se dissolve, os cantos de sua boca caem. Seus olhos azuis gélidos derretem. Mas seu rosto também se tenciona de novas formas. Linhas em volta dos cantos de seus olhos. Sobrancelhas pretas alinhadas em um único longo bloco.
Ele não responde. Nós nos olhamos novamente, mas não é a coisa sem movimento, gelada que foi antes.

Meus braços se armam para chegar a ele. Para exercer alguma expressão física de conforto. Eu os ergo até a metade e os largo novamente. Minhas mãos se contraem em sua direção, e eu as coloco em punho.

Ele está se movendo quase do mesmo jeito. Ele se inclina só um pouco em minha direção, então recua sutilmente. Ele faz isso três vezes enquanto encaramos um ao outro.
Eu espero por suas acusações: você a fez sofrer por minha causa. Você era insignificante. Você conhecia os pontos fracos dela e os usou. Você deixou ela se sacrificar. Ela é cem vezes melhor do que a pessoa que você é.

Tudo verdade. Eu não vou argumentar com ele. Vou declarar-me culpada.

Ele não diz nada.

Essa repressão é por causa dela, porque ele sabe que ela não aprovaria? Ou ele está apenas sendo educado, do jeito que você é para um estranho?

Ele ainda não fala e eu começo a imaginar que ele simplesmente não consegue.

Não há palavras para a dor que está fácil de ler, agora, em seus olhos.

“Você quer … ir até ela?” Eu ofereci.

Ele não respondeu, mas a dor em seus olhos mudou um pouco. Tornou-se… espanto. Sua mão levantou levemente então caiu.

“Ela está com Doc,” eu murmurei. Eu virei, de costas em direção ao túnel sul. Eu dei um passo para o lado, conduzindo. Ele segue com um movimento brusco.

Caminhando vagarosamente, ainda lado a lado, eu vou pra escuridão. Ele segue, seus passos ficando mais fortes. Uma vez que estamos no escuro eu viro meu rosto pra frente. Eu mantenho meu passo leve, escutando pra ter certeza que ele está comigo. Seus passos soam fortes. Ele começa a acelerar. Depois de pouco tempo eu estou seguindo ele.

No escuro é fácil. Como se os olhos dele estivessem fechados. Nós caminhamos em silêncio, mas pareceu mais confortável. Eu era invisível pra ele antes, mas eu estava sempre lá caminhando ao seu lado. Eu senti o mesmo agora que estou invisível de novo.

“Eu não pude pará-la,” eu disse depois de meia milha.

Ele me surpreendeu – depois de uma pequena hesitação – me perguntando.

“Você queria?”

Sua voz está rouca, como se talvez ele não pudesse arriscar falar antes por causa do que ele poderia fazer com o seu controle próprio e eu estava ainda mais feliz de não conseguir ver ele.

“Sim.”

Nós caminhamos devagar sem falar por um tempo. Eu imagino como deve ser pra ele, escutar minha voz. Ele soa como meu amigo, mas eu devo parecer algo bem diferente pra ele.

“Por quê?” ele perguntou eventualmente.

“Por que ela… é minha melhor amiga.”

Sua voz está diferente quando ele fala de novo. Mais calma. “Eu me perguntava sobre isso.”

Eu não disse nada, esperando ele explicar. Depois de um minuto ele explicou.

“Eu imaginava se alguém que realmente conhecesse ela poderia não amá-la. Você conhecia ela, cada pensamento.”

“Sim.” Eu respondi a pergunta que ele não fez. “Eu a amo.”

Ele hesitou, então perguntou, “Mas você deve ter desejado seu corpo de volta?”

“Não se isso significasse perder Peg”

Ele digeriu isso por um momento. A sola do seu sapato de repente batendo forte contra uma pedra no chão e eu tive que me mover rápido para acompanhá-lo.

“Ela não está deixando esse planeta.” Ele rosnou.

Aquele outro plano – aquele que não foi mais do que uma fabricação de nossa cabeça – estava tão longe de meus pensamentos que me levou um segundo para entender.

“Essa nunca foi sua intenção,” eu disse significando concordar com ele.

Ele não disse nada, mas seu silêncio é uma pergunta. Ele caminha devagar de novo.

Eu tento explicar. “Ela estava fazendo por cima, então todos vocês não poderiam discutir com ela. Ela queria ficar aqui… Ela planejou, bem, ser enterrada aqui. Com Walter e Wes.”

Seu silêncio mais pesado dessa vez. Ele parou completamente.

Eu me apressei para explicar. “Mas ela está bem, como eu disse. Doc a colocou no tanque. Nós vamos conseguir um corpo pra ela. Logo. A primeira coisa.”

Mas ele não estava escutando. “Como ela pôde pensar em fazer isso comigo?” Ele sibila furioso.

“Não,” eu disse suavemente. “Não foi desse jeito. Ela sentiu que fosse machucar mais você se ela ficasse aqui… nesse corpo.”

“Isso é ridículo. Como ela pode preferir morrer do que viver?”

“Ela ama aqui,” eu disse suavemente. “Ela não queria viver em nenhum outro lugar.”

Ian está com muita raiva – raiva de Peg, o que me ofende. Suas palavras são cortantes. “Eu nunca pensei que ela fosse tão ‘desistente’.”

“Ela não é,” eu rebati, então imediatamente me senti culpada. Eu não tinha nenhum direito de ficar nervosa com Ian. Então eu falei devagar, medindo minhas palavras, tentando fazer ele enxergar. “Peg… ela pensou que ela estava cansada de ser um parasita , mas eu penso que ela só estava cansada. Ela estava tão desgastada Ian. Mais do que ela deixava qualquer um ver. Perdendo Wes daquele jeito… Isso foi muito pra ela. Ela se culpa.”

“Mas ela não teve nada a ver com isso.”

“Eu tentei dizer isso pra ela!” Eu percebi que eu gritei com ele de novo e respirei fundo. “Em seguida ter de enfrentar a buscadora. Isso foi mais difícil do que imagina. Mas mais do que isso, amando você enquanto… amando Jared. Amando Jamie e pensando que ele precisava mais de mim. Me amando.”

“Sentindo como se ela estivesse machucando a todos nós por estar respirando. Eu não acho que você possa entender como era para ela, porque você é humano. Você não imagina como ela… ela…” Eu não consigo encontrar as palavras certas, e minha garganta de repente parece inchada.

“Eu acho que eu entendo o que você quer dizer.” Sua voz está mais calma agora. O antagonismo se foi. Ian não é do tipo que persiste na raiva.
“Então ela realmente precisava de um tempo, mas ela fez tudo… Tudo melodramático. E eu achei que eu não poderia salvá-la.” Minha voz se quebra. Eu respiro fundo. “Eu não sabia que Jared estava nos seguindo.”

Quando eu disse o nome de Jared, eu ouvi um som de um pequeno suspiro na escuridão. Quase como… Um gaguejo abafado. E eu percebi que, assim como Peg, Jared não ia sentar numa cama e cruzar os dedos enquanto eu andava para uma situação de perigo potencial. Não que isso seja realmente perigoso, mas Jared não conhece Ian do jeito que eu conheço. E, para ser justa, se a situação fosse inversa, eu provavelmente teria feito exatamente a mesma coisa. E se ele dissesse alguma coisa sobre eu seguindo ele, eu poderia ter cometido um deslize, também. Eu viro os olhos no escuro.

Ian não percebeu. Ele suspira. “Jared capturou, mas eu perdi.”

“Jared é apenas extremamente cauteloso. Sempre. Ele ultrapassa os limites. Ultrapassa muito.” Isso é para ele. Aí ele sabe que foi descoberto.

“Mas ele estava certo” Ian disse.

“Sim.” Eu suspiro de alívio, pensando em quão perto a coisa estava. “Paranóia vem em boa hora às vezes”.

Ele anda quieto por alguns minutos. Eu tento ouvir Jared, mas ele está sendo cuidadoso agora, totalmente silencioso.

“Você acha que ela ficará brava com a gente quando acordar?” Ian pergunta.

Eu resfolego. “Peg, brava? Por favor.”

“Triste, então?” Ele pergunta mais tranqüilamente.

“Ela ficará bem,” Eu asseguro a ele, porque eu sei que ela não poderá ficar infeliz quando ela souber que isso é o que todos nós queremos. É a forma como ela é. Mas eu não me sinto mal por tirar vantagem de sua natureza, porque eu também sei que isso é o que ela realmente quer, debaixo de todo o auto-sacrifício. O que ela deixaria ela mesma querer se fosse um pouquinho mais egoísta.

“O que você disse antes, sobre ela amar você, e Jaime, e Jared… e a mim.”

“Sim?”

“Você acha que ela realmente me ama, ou está apenas respondendo ao fato de eu amá-la? Esperando me fazer feliz?”

Ele a entende. Ele a conhece melhor do que qualquer um fora eu.

Eu hesito.

“Eu só estou perguntando porque eu não quero ser um… um peso quando ela acordar.” Ele espera um momento por minha resposta, e quando eu não digo nada, ele continua. “Não se preocupe em ferir meus sentimentos. Eu quero a verdade.”

“Não são com os seus sentimentos que eu estou preocupada. Eu só estou tentando pensar no modo certo para descrever isso. Eu não fui… Inteiramente humana durante o ano passado, então eu entendo, mas eu não tenho certeza se você consegue.”

“Tente.”

“É forte, Ian. O jeito que ela se sente em relação a você é algo a mais. Ela ama esse mundo, mas uma grande parte da razão que ela não podia realmente deixá-lo é você. Ela pensa em você como uma âncora. Você deu a ela um motivo para finalmente ficar em um lugar depois de uma vida de peregrinação.”

Ele respira profundamente. Quando ele fala, eu ouço paz em sua voz pela primeira vez. “Então está tudo bem.”

“Sim.”

Uma pausa, e então ele diz, “Pare.”

“Que?”

Nós estávamos virando a esquina em direção à luz do hospital de Doc. Eu posso sentir minhas mãos ansiando por tocar o tanque novamente. Para ter certeza.

“Quando você for procurar o corpo. Aja com calma. Tenha certeza de escolher um em que ela será feliz. Eu posso esperar.”

Eu olho para ele. Eu posso ver sua expressão agora. Ele está calmo.

“Você não virá conosco?” Eu pergunto, espantada. Eu percebo que eu estive pensando nele como parte do próximo passo. Imaginando ele de um lado, Jared do outro, do modo como foi na nossa última incursão.

Ele balança a cabeça enquanto anda para a grande e brilhante abertura que é a entrada do hospital.

“Eu realmente não me importo com essa parte. Você sabe do que ela precisa. E eu prefiro ficar aqui com ela”.

Parte de mim está magoada porque ele não virá comigo, que em vez disso ficará aqui com Peg, mas eu não tenho certeza se estou com ciúmes dele ou dela.

Nós andamos em direção à luz, e lá está Jared, a figura da inocência e curiosidade, apoiado contra a cama onde está o tanque de Peg. Ian anda direto para ela. Jared dá um passo cuidadoso para fora de seu caminho. Nas sombras, Kyle assiste com um olhar vazio. Doc ainda está dormindo.

Ian levanta o tanque com um cuidado inacreditável. Eu o ouço exalar. Com alívio. Com pesar. Com esperança.

“Obrigado,” ele diz na direção de Jared, mas ele não desvia o olhar do tanque.

“Eu devia uma a ela,” Jared responde.

Então Jared olha para mim, uma sobrancelha erguida. Uma pergunta.

Eu respiro fundo e ando em direção a ele. Sim, eu respondo com meu sorriso. Sim, eu posso ser feliz agora. Sim, eu também te amo. Sim.

Eu ponho uma mão em volta de sua cintura, mas minha outra mão se desloca para longe. Meus dedos percorrem o morno metal nos braços de Ian.

Eu me sinto forte de novo. Tudo ficará bem. Logo.

E então eu poderei contar a Peg sobre isso.

segunda-feira, 6 de maio de 2013